domingo, 25 de outubro de 2020

Calibã e a Bruxa, sobre trabalho doméstico e o que isso tem a ver com Pandemia

 " As mulheres não poderiam ter sido totalmente desvalorizadas enquanto trabalhadoras e privadas de toda a sua autonomia com relação aos homens se não tivessem sido submetidas a um intenso processo de degradação social".


    O livro Calibã e a Bruxa, de Silvia Federici, foi traduzido pelo Coletivo Sycorax e se tornou um dos livros mais marcantes em minha vida: não há como lê-lo e não sair refletindo sobre a vida das mulheres ao nosso redor. Em tempos de Pandemia, chegamos `a conclusão de que o que consideramos avanços sobre o trabalho feminino na realidade são superficiais, ou seja, quando o bicho pega a tão mal-falada divisão sexual do trabalho volta com tudo. Ou você não conhece mulheres que deixaram de produzir conhecimento científico, adiaram projetos e sobrecarregaram com trabalhos home-offices enquanto estavam em casa cuidando da família?

    No livro, Federici aborda a transição do feudalismo para o modo de produção industrial e como boa materialista-histórica aponta as contradições que contribuíram para uma forma indireta de exploração do trabalho feminino. Por se tratar de uma abordagem mais acadêmica, é preciso explicar algumas coisitas para quem quer se inteirar sobre o assunto.

    Primeiramente, é preciso compreender a Teoria da Reprodução Social. A divisão sexual do trabalho poupou as mulheres de alguns tipos de serviços braçais em alguns contextos, porém, ao contrário do que defendem as antifeministas isso não foi um privilégio, já que as mulheres passaram a realizar trabalhos de cuidados que facilitavam a vida homem para ele exercer atividades fora do lar, além de garantir futuros trabalhadores para o "sistema". Manter a mulher dentro do âmbito doméstico e não pagá-la por isso tornou-se um mecanismo conveniente de se ter mão-de-obra mais barata.

    A autora aponta também que a famosa caça às bruxas não passou de uma política sexual que visava a domesticação das mulheres que se rebelavam contra o status dominante e ainda critica Marx por não ter se atentado que a exploração da mulher também foi uma forma de manter as classes dominadas controladas já que mesmo em momentos de libertação do trabalho escravo, a mulher continuava socialmente inferiorizada.

    Através das contradições do capitalismo, que associa o valor do trabalho através do salário, Federeci considera que a subversão é justamente atuar em cima da maior crítica de Marx em relação á relações afetivas terem se tornado meramente monetárias: exigir que donas de casa se tornem assalariadas.

    As mulheres CONTINUAM em desvantagem histórica e não são apenas mudanças superficiais que mudarão isso. 



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