domingo, 29 de novembro de 2020

É possível ser radical sem ser extremista?

 Radicalizar é fundamental!

Tudo que é sólido se desmancha no ar...

Em nossa sociedade há uma enorme confusão entre radicalidade e extremismo. Se você não matou aula em História/Filosofia/Sociologia provavelmente aprendeu ( ou deveria ter aprendido) que radical é ir na raiz do problema e extremismo é o conjunto de métodos duvidosos para se chegar ou impor um modo de vida.
No espectro político temos a esquerda, a direita e o centro que compõe um conjunto de projetos específicos para a sociedade. Ultimamente está na moda insinuar que o centro é uma posição mais equilibrada, que consegue ver os dois lados da moeda e chegar a um consenso. Será mesmo?
O centro habitualmente se torna uma posição política mais "orgânica" que se aproxima mais das instituições e consegue aproveitar as fraquezas dos dois lados, porém, as instituições como partes da estrutura não são totalmente isentas das determinações dessa mesma estrutura.
Debates superficiais no Brasil levam a população a crer que a radicalidade é perigosa, que ela coloca a vida das pessoas em risco, quanto na verdade, radicalizar é mexer com as estruturas.
Eleições são momentos propícios para refletirmos o quanto precisamos conviver com a contradição para aproveitar esse espaço ao mesmo tempo lembrar que essa não é a finalidade. Afinal, mudar apenas rostos a cada 4 anos não implica em avanços.
Ser radical é reconhecer a contradição, não para abraçá-la mas sim para transformá-la! 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Votar em mulheres é o suficiente?

Representatividade importa, mas qual?


A reflexão que pretendo propor aqui não tem como finalidade a polêmica pela polêmica e sim, uma forma materialista-dialética de abordar a realidade. Isso significa que temos que olhar através das contradições, levá-las em consideração para o processo de transformação social mais amplo.


Primeiramente, as mulheres ocuparem espaços políticos é importante, sim. Foi um longo processo histórico para que fôssemos consideradas pessoas, depois cidadãs e agora aptas para ocupar cargos antes predominantemente masculinos. Ou seja, houve um processo humanizador no meio que levou em consideração não apenas as características biológicas mas também capacidade de refletir e concretizar através do trabalho. Ok.


Gostando ou não, como seres sociais estamos sujeitos a legitimação do meio, ou seja, você pode se considerar um enviado divino para se tornar um rei mas se seu meio considera isso uma balela a chance de você estabelecer uma monarquia vai pelo ralo... Ocorre um processo dialético entre sujeito-sociedade que ora cerceam o indivíduo, ora  proporcionam brechas para que ele faça algo diferente....


Quando se trata de mulheres, uma coisa tem que se ter em mente: nem sempre colocar mulheres no poder é sinônimo de grandes mudanças, muitas vezes é apenas uma resignificação de velhos papéis e a manutenção de algumas contradições, lembra daquela máxima "muda-se tudo para continuar igual?", então.


De acordo com Gerda Lerner " o sistema do patriarcado só pode funcionar com a cooperação das mulheres" e a concessão de privilégios de classe para as mulheres que obedecem é um deles. Isso significa que, não basta termos mulheres em cargos políticos, precisamos de mulheres com uma consciência de classe ocupando eles. O caminho é certamente mais difícil para se chegar nesse ponto mas devemos lembrar disso quando formos votar. Afinal, mulheres que reproduzem discurso machista não são nossas aliadas. 



quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Donas de casa deveriam ser assalariadas?

Uma pergunta que parece uma piada: você trabalha ou só cuida da casa?


Você se lembra de quando percebeu que o trabalho doméstico é desvalorizado? Habitualmente, nós mulheres crescemos ouvindo que temos que aprender a cuidar de casa, que é feio uma moça não saber lavar uma louça ou limpar um chão... De fato, as atividades domésticas são a primeira forma de trabalho não reconhecido como trabalho que aprendemos. Enquanto os meninos são estimulados a brincarem na rua, já temos que ajudar a mãe em casa com os afazeres. Mesmo que isso esteja lentamente mudando ainda se espera que a mulher sempre se prontifique em ajudar nessa parte, seja no almoço na casa dos sogros, seja no churrascão do marido...

A primeira forma de se obter um trabalho gratuito das mulheres foi a "naturalização" dos serviços domésticos como tarefas femininas. À partir daí, os homens obtiverem o consolo de que fora de casa até poderiam ser explorados, mas dentro dela sempre poderia contar com uma serva. Pesado né? Pois pense bem, quem historicamente garantiu que homens fossem cuidados, alimentados e sexualmente satisfeitos depois de um dia de trabalho fora do lar? Agora pense... Por que esse trabalho nunca foi remunerado e socialmente reconhecido como trabalho dentro de casa? 

Simplesmente, porque reconhecer como trabalho "assalariável" reduziria a noção masculina de superioridade social, além do sistema ter uma mão-de-obra gratuita não apenas para garantir o bem estar de homens trabalhadores do presente como ainda futuros trabalhadores( filhos é o nome).

Você pode questionar: mas isso não é uma decisão individual? Qual o problema em querer cuidar da casa e não trabalhar fora? É aí que entra a questão dialética sujeito-sociedade. É uma opção você ficar em casa- e não há nada de inferior em gostar de atividades domésticas- mas não é uma escolha que ele não seja devidamente valorizado e que você está contribuindo para um sistema de exploração maior do que você.  Toda vez que for lavar a louça, lembre-se disso.








sábado, 7 de novembro de 2020

Macho Appeal: o estereótipo do machão que angaria votos

 Sim, o famoso macho putinho ainda faz sucesso...

Finalmente, Trump perdeu. Porém, não podemos negar que isso não significa o fim do Trumpismo. Por incrível que pareça, mulheres e imigrantes latinos também votaram no republicano... Mas por que isso acontece?

Os estadunidenses criaram a expressão macho appeal para explicar o apelo que o estereótipo do machão tem sobre alguns eleitores. Se impor, ser agressivo, falar palavrão, agir com uma postura que beira a arrogância se conecta ao imaginário de um povo quando ele acredita que precisa de firmeza para resolver uma fase econômica crítica.

Adotar um discurso bélico parece ser uma saída adotada comumente em alguns momentos históricos, principalmente quando há várias crises acontecendo ao mesmo tempo. Contudo, a Pandemia mostrou que nem tudo se resolve na bala e essa mentalidade contribuiu para o início da derrocada de um país que ainda tem grande influência no mundo.

Isso mostra que temos mais homens com masculinidade frágil projetando suas frustrações em qualquer fanfarrão que fala alto do que gostaríamos... Um bromance tóxico que ainda está longe de acabar.



 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Caso Mariana Ferrer: o machismo institucional

Como retrocedemos...

 



Quase todas as mulheres que conheço já passaram por alguma tentativa de abuso/estupro e boa parte dos casos não foi feito NADA.


Em grupos masculinistas e antifeministas você sempre acaba lendo argumentos de que existe falsas denúncias de assédio/abuso/estupro como se isso fosse equivalente a tantos casos que são acobertados e quando denunciados, não são resolvidos. 


Nesses momentos nos confrontamos com uma realidade que às vezes tentamos não refletir: o machismo atravessa também os espaços institucionais, afinal, a sociedade AINDA é patriarcal e isso está bem amarrado na superestrutura. 


Todos nós caímos em algum momento na tentação de acreditar que Universidades, Tribunais, Hospitais , etc são lugares ocupados apenas por pessoas cultas que já superaram alguma mentalidade obscura e que são abertas a reverem posicionamentos retrógrados, mas não é bem assim.


Quando assistimos uma vítima que passou por estupro sendo humilhada por homens como se a culpa fosse dela, constatamos que falhamos muito como sociedade. Falhamos muito.


Justiça para Mariana e para todas as mulheres desse país 🙏

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

NÃO SOU FEMINISTA LIBERAL!

 Ah, o patriarcado...

Imagem disponível em:https://medium.com/qg-feminista/o-que-%C3%A9-esse-tal-de-feminismo-liberal-12c2c28e4b37

    Meu primeiro contato com a literatura Feminista ocorreu na adolescência, por volta dos 14 anos. Naquela época eu tinha uma vaga noção de que as mulheres eram tratadas de forma diferentes dos homens através de observações do cotidiano. Desde de regras familiares de comportamentos para meninas até aquelas revistas de alta circulação ( oi, Capricho), nada escapava da minha percepção. 

Eu fui bombardeada com informações de que mulher tinha que estudar, trabalhar, ter sua carreira, ter um carro, seguir uma carreira… Tudo que as nossas antecessores não tiveram oportunidades de usufruir e me parecia um bom caminho até… descobrir que a sociedade é bem mais complexa.

    O Feminismo assim como outras teorias tem várias vertentes: o Feminismo Radical, o Feminismo Marxista, o Feminismo Liberal, o Feminismo Negro… O que mais influencia hoje certamente é o Liberal, e certamente é o mais problemático também. E por quê?

O Feminismo Liberal considera a liberdade um valor maior que a igualdade. Porém, vivemos em sociedade e temos relações contraditórias com… Bom, com todas as pessoas. O Feminismo Liberal não leva em consideração a estrutura econômica da sociedade, o que significa que a liberdade vai até a página 2. Ou seja, você pode trabalhar e se esforçar mas há muitas forças de interesses ao lado e acima de você e que se você não se atentar, até a sua "liberdade" pode ser usada contra você. 

    Um simples exemplo é a liberdade sexual. Hoje em dia, um homem não pode mais anular um casamento pelo fato da mulher não ser mais virgem, porém, ainda temos um padrão moral ambíguo em que a mulher é condenada socialmente se ela tiver o mesmo comportamento que o homem. Parece que mudamos, pero no mucho né? Isso porque a história é marcada por avanços e retrocessos, tanto culturalmente quanto economicamente. 

    Não existe liberdade absoluta e mesmo que você decida se enfiar em uma ilha e fazer só do seu jeito a sociedade continuará aí com as suas contradições. 

Você pode fazer sua parte para mudar o mundo, mas sem um propósito para o coletivo até suas conquistas podem ser usadas contra você… Bora se mexer, mas sem se iludir com meritocracia 😂.

Você suporta suas próprias contradições?

Parece que petrificamos cedo demais... Como boa leonina, eu sempre me orgulhei de ter ideais fortes, acreditando ou não em arquétipos astrol...