sábado, 12 de dezembro de 2020

Você suporta suas próprias contradições?

Parece que petrificamos cedo demais...


Como boa leonina, eu sempre me orgulhei de ter ideais fortes, acreditando ou não em arquétipos astrológicos, sinto que formei convicções muito cedo, porém, percebi que não estou sozinha nessa.

Hoje percebo que boa parte da vida eu fui radical nas ideias e flexível nos métodos e... Isso não deveria ser ruim, sinônimo de fraqueza ou falta de identidade mas, boa parte do tempo, parece ser. 

Aos 25 anos ouvi várias vezes de uma mesma pessoa que parecia que eu ainda estava em construção e lembro o quanto me sentia mal por isso, o quanto lamentava não estar "pronta". Porém, pensando bem, quem realmente está?

Por que temos essa urgência em definir as pessoas e sermos definidos? Por que sempre procuramos um padrão coerente para nos encaixamos ? Por que esperamos que pessoas que gostam de rock só usem preto ou pessoas introvertidas sejam quietas o tempo todo? 

Por que temos tanta dificuldade em aceitar nossas indefinições, nossas ambiguidades? Você é sempre o mesmo para todas as pessoas ? Sinceramente, é questionável.

Que nossa busca por coerência não nos pode e nem tire nossa abertura para experimentar novas combinações dentro de nós. Ser duro é estar morto. 


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Não estou cansada da Pandemia, estou cansada das pessoas...

Você também descobriu que pessoas que são o problema?


Definitivamente, 2020 não foi para amadores. Fomos pegos de surpresa por uma Pandemia que virou nosso mundo e nos fez mudar muitas coisas, ou pelo menos deveríamos ter mudado.

Crise econômica, colapso na saúde pública, mortes prematuras de pessoas que amamos. Um contexto propício para sossegarmos o facho e nos dedicarmos a coisas realmente importantes como sobrevivência e cuidados.

Mas, você já notou que chegamos em um ponto de que as pessoas não se tocaram de uma coisa básica? São elas que são o problema? 

Pense bem, o vírus não brota do nada, aconteceram vários fatores para que ele saltasse para humanos e também ele precisa da nossa ajudinha para circular, para se multiplicar... O que é um vírus sem uma célula hospedeira? Quase nada.

A galera simplesmente ligou aquele botão do foda-se e esqueceu dessa parte. Igual aquela outra galera que acha que o amor é uma entidade e esquece quando ela ama ela leva a personalidade junto? Forte né?

Não se assusta se você descobrir que no fundo você não está cansado da Pandemia, é sinal de que sua vida não está tão ruim assim.


domingo, 29 de novembro de 2020

É possível ser radical sem ser extremista?

 Radicalizar é fundamental!

Tudo que é sólido se desmancha no ar...

Em nossa sociedade há uma enorme confusão entre radicalidade e extremismo. Se você não matou aula em História/Filosofia/Sociologia provavelmente aprendeu ( ou deveria ter aprendido) que radical é ir na raiz do problema e extremismo é o conjunto de métodos duvidosos para se chegar ou impor um modo de vida.
No espectro político temos a esquerda, a direita e o centro que compõe um conjunto de projetos específicos para a sociedade. Ultimamente está na moda insinuar que o centro é uma posição mais equilibrada, que consegue ver os dois lados da moeda e chegar a um consenso. Será mesmo?
O centro habitualmente se torna uma posição política mais "orgânica" que se aproxima mais das instituições e consegue aproveitar as fraquezas dos dois lados, porém, as instituições como partes da estrutura não são totalmente isentas das determinações dessa mesma estrutura.
Debates superficiais no Brasil levam a população a crer que a radicalidade é perigosa, que ela coloca a vida das pessoas em risco, quanto na verdade, radicalizar é mexer com as estruturas.
Eleições são momentos propícios para refletirmos o quanto precisamos conviver com a contradição para aproveitar esse espaço ao mesmo tempo lembrar que essa não é a finalidade. Afinal, mudar apenas rostos a cada 4 anos não implica em avanços.
Ser radical é reconhecer a contradição, não para abraçá-la mas sim para transformá-la! 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Votar em mulheres é o suficiente?

Representatividade importa, mas qual?


A reflexão que pretendo propor aqui não tem como finalidade a polêmica pela polêmica e sim, uma forma materialista-dialética de abordar a realidade. Isso significa que temos que olhar através das contradições, levá-las em consideração para o processo de transformação social mais amplo.


Primeiramente, as mulheres ocuparem espaços políticos é importante, sim. Foi um longo processo histórico para que fôssemos consideradas pessoas, depois cidadãs e agora aptas para ocupar cargos antes predominantemente masculinos. Ou seja, houve um processo humanizador no meio que levou em consideração não apenas as características biológicas mas também capacidade de refletir e concretizar através do trabalho. Ok.


Gostando ou não, como seres sociais estamos sujeitos a legitimação do meio, ou seja, você pode se considerar um enviado divino para se tornar um rei mas se seu meio considera isso uma balela a chance de você estabelecer uma monarquia vai pelo ralo... Ocorre um processo dialético entre sujeito-sociedade que ora cerceam o indivíduo, ora  proporcionam brechas para que ele faça algo diferente....


Quando se trata de mulheres, uma coisa tem que se ter em mente: nem sempre colocar mulheres no poder é sinônimo de grandes mudanças, muitas vezes é apenas uma resignificação de velhos papéis e a manutenção de algumas contradições, lembra daquela máxima "muda-se tudo para continuar igual?", então.


De acordo com Gerda Lerner " o sistema do patriarcado só pode funcionar com a cooperação das mulheres" e a concessão de privilégios de classe para as mulheres que obedecem é um deles. Isso significa que, não basta termos mulheres em cargos políticos, precisamos de mulheres com uma consciência de classe ocupando eles. O caminho é certamente mais difícil para se chegar nesse ponto mas devemos lembrar disso quando formos votar. Afinal, mulheres que reproduzem discurso machista não são nossas aliadas. 



quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Donas de casa deveriam ser assalariadas?

Uma pergunta que parece uma piada: você trabalha ou só cuida da casa?


Você se lembra de quando percebeu que o trabalho doméstico é desvalorizado? Habitualmente, nós mulheres crescemos ouvindo que temos que aprender a cuidar de casa, que é feio uma moça não saber lavar uma louça ou limpar um chão... De fato, as atividades domésticas são a primeira forma de trabalho não reconhecido como trabalho que aprendemos. Enquanto os meninos são estimulados a brincarem na rua, já temos que ajudar a mãe em casa com os afazeres. Mesmo que isso esteja lentamente mudando ainda se espera que a mulher sempre se prontifique em ajudar nessa parte, seja no almoço na casa dos sogros, seja no churrascão do marido...

A primeira forma de se obter um trabalho gratuito das mulheres foi a "naturalização" dos serviços domésticos como tarefas femininas. À partir daí, os homens obtiverem o consolo de que fora de casa até poderiam ser explorados, mas dentro dela sempre poderia contar com uma serva. Pesado né? Pois pense bem, quem historicamente garantiu que homens fossem cuidados, alimentados e sexualmente satisfeitos depois de um dia de trabalho fora do lar? Agora pense... Por que esse trabalho nunca foi remunerado e socialmente reconhecido como trabalho dentro de casa? 

Simplesmente, porque reconhecer como trabalho "assalariável" reduziria a noção masculina de superioridade social, além do sistema ter uma mão-de-obra gratuita não apenas para garantir o bem estar de homens trabalhadores do presente como ainda futuros trabalhadores( filhos é o nome).

Você pode questionar: mas isso não é uma decisão individual? Qual o problema em querer cuidar da casa e não trabalhar fora? É aí que entra a questão dialética sujeito-sociedade. É uma opção você ficar em casa- e não há nada de inferior em gostar de atividades domésticas- mas não é uma escolha que ele não seja devidamente valorizado e que você está contribuindo para um sistema de exploração maior do que você.  Toda vez que for lavar a louça, lembre-se disso.








sábado, 7 de novembro de 2020

Macho Appeal: o estereótipo do machão que angaria votos

 Sim, o famoso macho putinho ainda faz sucesso...

Finalmente, Trump perdeu. Porém, não podemos negar que isso não significa o fim do Trumpismo. Por incrível que pareça, mulheres e imigrantes latinos também votaram no republicano... Mas por que isso acontece?

Os estadunidenses criaram a expressão macho appeal para explicar o apelo que o estereótipo do machão tem sobre alguns eleitores. Se impor, ser agressivo, falar palavrão, agir com uma postura que beira a arrogância se conecta ao imaginário de um povo quando ele acredita que precisa de firmeza para resolver uma fase econômica crítica.

Adotar um discurso bélico parece ser uma saída adotada comumente em alguns momentos históricos, principalmente quando há várias crises acontecendo ao mesmo tempo. Contudo, a Pandemia mostrou que nem tudo se resolve na bala e essa mentalidade contribuiu para o início da derrocada de um país que ainda tem grande influência no mundo.

Isso mostra que temos mais homens com masculinidade frágil projetando suas frustrações em qualquer fanfarrão que fala alto do que gostaríamos... Um bromance tóxico que ainda está longe de acabar.



 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Caso Mariana Ferrer: o machismo institucional

Como retrocedemos...

 



Quase todas as mulheres que conheço já passaram por alguma tentativa de abuso/estupro e boa parte dos casos não foi feito NADA.


Em grupos masculinistas e antifeministas você sempre acaba lendo argumentos de que existe falsas denúncias de assédio/abuso/estupro como se isso fosse equivalente a tantos casos que são acobertados e quando denunciados, não são resolvidos. 


Nesses momentos nos confrontamos com uma realidade que às vezes tentamos não refletir: o machismo atravessa também os espaços institucionais, afinal, a sociedade AINDA é patriarcal e isso está bem amarrado na superestrutura. 


Todos nós caímos em algum momento na tentação de acreditar que Universidades, Tribunais, Hospitais , etc são lugares ocupados apenas por pessoas cultas que já superaram alguma mentalidade obscura e que são abertas a reverem posicionamentos retrógrados, mas não é bem assim.


Quando assistimos uma vítima que passou por estupro sendo humilhada por homens como se a culpa fosse dela, constatamos que falhamos muito como sociedade. Falhamos muito.


Justiça para Mariana e para todas as mulheres desse país 🙏

Você suporta suas próprias contradições?

Parece que petrificamos cedo demais... Como boa leonina, eu sempre me orgulhei de ter ideais fortes, acreditando ou não em arquétipos astrol...