Lembro-me da primeira vez em que me deparei com páginas antifeministas no Facebook e do quanto fiquei chocada com o que lia nos posts e comentários. A forma curiosa de como se consideravam crítica dos movimentos me fez acompanhar por longo tempo para descobrir o que realmente combatiam ao direcionar toda a raiva para o feminismo e não para o machismo.
Quando você agarra o fio de Ariadne você finalmente descobre que por trás do Antifeminismo há um combo: a mistura de pautas reacionárias, religiosas e até "olavetes".
Geralmente, os grupos erguem algum espantalho, como aquelas manifestações de seios de fora e todo tipo de gente pelada, batem nele, acusam de seguir alguma cartilha comunista e o debate raramente ultrapassa a superfície ( pseudo) moralista.
O mais curioso de tudo é que no meio de tanta distorção teórica, o que mais criticam é o Feminismo Liberal ( que também é renegado pelo Feminismo Marxista) ao mesmo tempo em que seguem ele sob a direção da paranóia anticomunista.
Quem nunca viu uma antifeminista que trabalha fora, segue carreira universitária e /ou política enquanto diz que não precisa do Feminismo?
O antifeminismo alega que nós mulheres somos privilegiadas por não sermos obrigadas a nos alistarmos ao Exército, a realizar trabalhos pesados ligados `a construção civil, a correr riscos em profissões perigosas, contudo, se esquecem que meninas são comumente feitas de escravas sexuais, que muitas mulheres se submetem a trabalhos menos remunerados para sustentarem uma família e que muitas ainda estão em dilemas relacionados à dupla jornada ( ou tripla) jornada de trabalho.
Uma das maiores preocupações do Antifeminismo é a emasculação dos homens , já que acreditam que os avanços sociais das mulheres os intimidam e inibem o " instinto de proteção" masculina. E toda essa preocupação por quê? Porque isso afeta a relação de homens e mulheres, acaba com o "romantismo", acaba com possíveis provedores financeiros... Ou seja, o Feminismo atrapalha que as mulheres continuem se moldando para agradar a auto-imagem de herói dos homens.
Uma das principais acusações sem a devida fundamentação é de que o Feminismo NEGA as diferenças biológicas, quando na verdade o que mais se aproxima disso é o Feminismo Liberal rsrs. A maior parte das vertentes leva em consideração de que as diferenças biológicas contribuíram direta e indiretamente para a inferiorização social da mulher, porém , não há uma culpabilização da natureza quanto a isso e isso uma reflexão do quanto podemos criar uma sociedade que leve em consideração a superação do determinismo biológico.
A disseminação das ideias antifeministas nas redes se deve ao fato de que elas nunca estão dissociadas de outros elementos mais palatáveis que exigem menos reflexão.
Pensar em um modelo de sociedade em que as diferenças são respeitadas quando precisamos ser diferentes e sermos reconhecidos como iguais quando devidamente precisamos ser vistos dessa forma exige muito mais do que indagações superficiais e respostas simplórias.
Apenas para citar um exemplo: a questão da gravidez e o mercado de trabalho. Olhando apenas para questão biológica, sabemos que essa diferença entre homens e mulheres geram a preferência por homens em muitos cargos. Nesse aspecto tivemos o avanço de ser ter licença-maternidade para que a mulher possa se dedicar exclusivamente ao filho nos primeiros meses. Essa diferença impõe uma necessidade diferente para as mulheres, porém, a discussão gira sempre em torno do empresário/empregador ser prejudicado ao selecionar mulheres. E por que isso acontece? Porque em nossa estrutura econômica já deixamos há muito tempo de priorizar o ser humano, ele se tornou apenas meio e não finalidade, logo, a primeira preocupação sempre será com lucro, retorno monetário e afins. Logo, é mais fácil culpar as mulheres por engravidaram e recorrer a um discurso de que "tudo é questão de escolha" , como serter filhos fosse APENAS um dilema individual, quando o simples fato de se viver em sociedade já nos coloca automaticamente em escolhas que sempre se confrontarão ou refletirão no COLETIVO.
Historicamente já temos um exemplo de que ter ou não filhos tem um impacto que afeta o coletivo. Lembram da Política do Filho Único que a China adotou para controlar o crescimento populacional? O resultado foi simplesmente preocupante. Por se tratar de uma sociedade ainda com forte resquício patriarcal a preferência era se se ter apenas um filho do sexo masculino, já que na cultura deles é o filho homem que tem obrigação de cuidar dos pais na velhice enquanto as filhas passavam a ter a obrigação de cuidar da família do marido. Com isso, houve um crescimento alarmante de abortos de bebês do sexo feminino e os países em atritos com a China passaram a ter a preocupação de lidar com milhões de homens solteiros que não encontrarão uma mulher para casar ( no caso dos héteros). E o motivo da preocupação? Uma sociedade com mais homens do que mulheres apresenta um índice maior de violência e a tendência a resolver tudo na... bala. ( Em conflitos bélicos nada melhor que arrumar uma guerra para jovens desocupados né?). Para bom entendedor...
Tudo isso, só para apontar que indagações superficiais, comportamentais e moralistas são fáceis, lidar com a estrutura e as consequências coletivas é que são elas. E é por isso que o Antifeminismo cresceu tanto: porque ele é fácil. O silêncio é que se tornou difícil.